terça-feira, 16 de novembro de 2010

Voçe é o seu Obstáculo

E, de repente, o rumo da vida muda completamente. As estradas se curvam, e as pessoas que andavam lado-a-lado com você, somem. Você olha para os lados procurando a bela paisagem tropical que antes cercava a você e aos seus amados, mas tudo o que enxerga é a vastidão do deserto.
Você se depara com um muro. Alto e extenso, e se desespera por não ver o fim dele.
  O pânico toma conta de você. Sua alma, antes em paz, pesa. Você começa a tatear o muro com mãos nervosas, procurando uma passagem secreta, ou talvez um detalhe, para te ajudar a escalar o muro de tijolos lisos.
Você sente seus olhos enchendo-se de lágrimas. O desânimo te acerta em cheio, e as lágrimas transbordam de seus olhos. O pânico cresce cada vez mais, você tem medo de nunca conseguir ultrapassar o muro.
Mas você recusa-se a abalar-se antes de tentar. Você olha para o chão, à procura de ferramentas que te ajudem a destruir o muro. Não encontra.
O pânico e o desespero foram embora, dando lugar ao desânimo e à tristeza.
Cansado, você sente suas costas raspando no muro, e deslizando até o chão. Você senta no chão do deserto e fecha os olhos. E ali, recostado no muro, sua mente começa a vaguear, sem você perceber.
  Você começa a imaginar o que tem do outro lado do muro, e fica cada vez mais curioso. Você imagina lindas paisagens, além do muro. Você imagina as ondas do mar batendo nos seus pés. A imagem de paisagens tão paradisíacas lhe inunda de paz, calma, harmonia e felicidade. Sua alma está leve novamente.
Você abre os olhos, torcendo para aquele pesadelo ter acabado, e descansa a cabeça.
  Você para. Para de pensar nas coisas que fez, para de pensar no passado que teve,para de se arrepender de tudo. Você se esquece. Você se esquece das pessoas que ama, e dos momentos que teve com elas. Você se esquece das suas perdas e dos seus fracassos. Esquece-se como sorrir, esquece de como chorar, esquece de ter fome, esquece de amar, esquece de odiar, esquece de enlouquecer, esquece de sentir saudades, esquece do que é ser feliz.
Tudo o que vem à sua mente agora é o muro. O maldito muro onde você está recostado, esquecendo.
Sua mente vagueia novamente, e você recomeça a imaginar as lindas paisagens que existem por trás daquele muro de tijolos. A curiosidade te dá forças, e você se levanta. Limpa suas roupas e olha para os lados, observando cada mínimo detalhe da cena.
Você vê as pessoas que andavam ao seu lado bem longe, cada uma trabalhando nos seus próprios muros, sem notar a presença das outras.
Você se sente um pouco egoísta por pensar que só você tinha um muro para escalar e sorri com a sua ingenuidade infantil.
Por um segundo, sua mente hesita, sem saber se você se ajuda, ou se ajuda aos seus amados. E percebe que tem que se ajudar, para que possa ajudá-los.
Você se concentra novamente no muro a sua frente, e decide que o único jeito de passar por ele, é escalando-o.
Você pensa na imensidão azul do mar que se estende após o muro, e quer por que o quer só para você.
Procurando uma saliência entre os tijolos vermelhos, você pensa no que fazer depois de passar o muro.
A cena de você mesmo correndo pela areia branca em direção ao mar te dá força, e você acha a saliência. Você percebe que precisará de pelo menos duas saliências, e procura a outra mais acima. Você encontra. Pisa na saliência mais baixa, visando encontrar o mar, o SEU mar, e segura a pequena saliência acima da sua cabeça com a ponta dos dedos.
Você começa a escalar, assim, o grande muro, que te impede de chegar onde você tanto almeja. A esperança te inunda. Está funcionando, e você está quase na metade do muro.
Mas, ao se distrair com a sua esperança repentina e a onda te otimismo que te inundou, você cai. Você desaba, de costas, e sente que caiu em cima de algo pontiagudo. Suas costas doem, e você percebe o liquido quente empapando a sua blusa.
Você tenta de novo. Põe o pé na saliência, segura com a ponta dos dedos à outra, e recomeça a escalada. Você passa da metade do muro. A alegria te invade, e, novamente, você cai. Você torce o pé, dessa vez. Não sangra, e não arde, mas a dor é incômoda.
Seus olhos estão ficando marejados novamente. Você impede as lágrimas de transbordarem, e resolve tentar a ultima vez.
Novamente, você escala. Passa da metade do muro, e sente a esperança e a felicidade vindo à tona, mas as impede. Você chega ao fim do muro, e quando seus olhos passam dele, você se comove, e cai. De novo.
Você resolve desistir de escalar o muro. Suas costas ardem, seus dedos estão latejando e seu pé dói. Você procura outra saída, e quando vê as pessoas que desistiram, chorando pelo mar, outra onda de determinação te invade. Você não quer ser como eles, desistentes.
Cada célula do seu corpo dói, mas você não se importa. As lágrimas transbordam com a dor que você sente, mas você também não se importa. Movido à desejo,você simplesmente sobe o muro. Já decorou aonde são as saliências e já tem força o suficiente para escalar tudo de uma vez, sem se distrair com emoções.
Assim, você chega ao topo do muro, e se senta em cima dele. Você olha pros lados, com a esperança de que seus amados tenham conseguido também.
Mas não é bem assim. Só uma pessoa conseguiria, e essa uma é você.
Você comanda o muro agora, é o dono  dele, pois foi o único que conseguiu passa-lo.
Observando o mar de cima do muro, a calma e a paz te invadem novamente, e você se sente bem. O cheiro da brisa marítima lhe embala, e você se sente novamente feliz.
Você é o muro.
Você pula do muro, sem medo da altura, e esquecendo de todas as suas dores, corre para o mar. Entra no mar até sentir a água na cintura.
Ouve os pássaros, livres, como você, e mergulha, contagiado pela calma que aquele lugar passa.
Você se sente vitorios, poderoso. Você se sente, acima de tudo, LIVRE.
Você se sente único.

Escrito por "" Wendel Barreto  Edição""" Danilo Resque

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